O Senado Federal mais uma vez vira palco de um teatro do absurdo, capaz de fazer inveja ao francês Eugène Ionesco. Pra mim, parece um picadeiro de circo invertido, com os palhaços assistindo na platéia! É, pode ser. Ou talvez Shakespeare ou Sófocles, ao depararem-se com a história que lhes contarei, poderiam encenar uma grandiosa peça de tragédia, pois não há outra palavra que descreva melhor o que acontece no coração do Congresso Nacional.
Ontem, 26 de abril de 2011, foram eleitos os novos 15 titulares do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar do Senado, bem como o novo Corregedor daquela Casa. Confira a lista dos nobres Senadores, acompanhada dos respectivos serviços prestados à Nação:
Renan Calheiros (PMDB-AL):
- acusado de ter as despesas pessoais pagas por lobista de uma empreiteira interessada em licitações do governo;
- a Schincariol comprou uma fábrica de bebidas do irmão dele por preço superior ao de mercado. Logo depois, o excelentíssimo Senador conseguiu que o INSS perdoasse uma dívida de mais de 100 MILHÕES DE REAIS e outra igualmente milionária com a Receita.
- foi acusado de envolvimento em esquema de arrecadação de recursos em ministérios como Saúde e Previdência Social, com direito a declaração do afilhado de casamento dizendo que ele próprio buscou sacolas de dinheiro para Renan.
Lobão Filho (PMDB-MA):
- é suspeito de ser sócio óculto de empresa que sonegou R$42 milhões de reais em 8 anos;
- responde a processo criminal sobre o funcionamento de emissora clandestina de TV;
- mas não se preocupem: ele alegou que as acusações são relativas à vida empresarial e não à administração pública.
João Alberto de Souza (PMDB-MA):
- foi candidato a vice de Roseana Sarney;
- envolvido em denúncias de irregularidade na sua posse como governador do Maranhão;
- coordenou operação Tigre, que matou 300 criminosos e pessoas sem passagem criminal;
- acusado de coordenar campanha para cassar prefeitos que não se submetam às ordens da governadora Roseana Sarney;
- proferiu a frase: “fiz um governo 90% honesto”.
Romero Jucá (PMDB-RR):
- envolvido em empréstimos irregulares do Banco da Amazônia para empresa que foi sócio;
- denunciado por desvio de verba pública pra campanha da esposa à prefeitura de Boa Vista;
- acusado de envolvimento no Mensalão;
Humberto Costa (PT-PE):
- envolvido na Máfia dos Vampiros, que desviava recursos da Saúde, da qual é ex-ministro.
Wellington Dias (PT-PI):
- acusado de promover em sua gestão de governador uma farra com diárias e ajudas de custo que beneficiaram aliados políticos.
José Pimentel (PT-CE):
Não encontrei denúncias.
Mário Couto (PSDB-PA):
Não encontrei denúncias.
Cyro Miranda (PSDB-GO):
Não encontrei denúncias.
Antonio Carlos Valadares (PSB-SE):
Não encontrei denúncias.
Gim Argello (PTB-DF):
- denunciado por envolvimento no desvio de recursos do Banco Regional de Brasília;
- denunciado por desviar meio milhão de reais para entidades fantasmas.
Jayme Campos (DEM-MT):
- acusado de integrar a máfia dos sanguessugas;
- acusado de tráfico de influência na operação Lacraia.
Vicentinho Alves (PR-TO):
- acusado de não pagar colaboradores da campanha eleitoral.
Ciro Nogueira (PP-PI):
- acusado de prevaricação, por ter acobertado colegas deputados que moravam irregularmente em apartamentos da Câmara dos Deputados;
- acusado de sonegar contribuições previdenciárias de entidade que dirigiu.
Acir Gurgacz (PDT-RO):
- segundo nota do jornal Correio Braziliense, responde a mais de 100 processos na Justiça, inclusive a acusação de fraude superior a R$ 3 milhões no Banco da Amazônia.
O Senado só pode estar de brincadeira. Renan Calheiros? Gim Argello? Lobão Filho? João Alberto? Mensaleiros, sanguessugas e vampiros? O que é isso? Por que o Collor não foi convidado?
De 15 titulares, só 4 não têm denúncias ou acusações! QUATRO SENADORES DE QUINZE! Isto é um despautério, uma vilania, um achincalhe à honradez da maior parte do povo brasileiro. Como pode o Senado desferir este golpe contra seu povo?
E vejam que bacana o significado de decoro, de acordo com o mesmo dicionário: “brio, dignidade moral, honradez, nobreza, decência”.
Mas nós também somos culpados. Não apenas porque o parlamento reflete a realidade de nosso povo, mas porque eles foram eleitos pelo povo. Nós não somos capazes de eleger um síndico que administrou mal o nosso prédio, mas elegemos senadores da laia de Calheiros, Sarney, Collor...
O mesmo Senado que já contou com a presença honrada de ilustres brasileiros, como a Princesa Isabel e Ruy Barbosa, hoje agoniza em dores da imoralidade e protagoniza o imperdoável superlativo do ridículo ao entregar o Conselho de Ética a senadores (com letra minúscula) com notório histórico de corrupção.
“Os políticos e as fraldas são semelhantes: possuem o mesmo conteúdo”. Eça de Queiroz.
Guilherme Augusto Heinemann Gassenferth
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